A primeira referência à Fonte da Pipa remonta à Idade Média. No entanto, o fontanário hoje existente resulta da reconstrução pós-terramoto de 1755 pelo Senado da Câmara, sob patrocínio régio de D. Maria I, como se lê na extensa inscrição que ocupa toda a faixa central da predela: Antiga Fonte da Pipa reedificada e melhorada pelo Doutor Francisco José de Miranda Presidente do Senado da Câmara e Juiz de Fora desta Vila em execução das ordens de Sua Magestade expedidas em aviso da Secretaria de Estado dos Negócios do Reino de vinte e seis de Outubro de mil setecentos e oitenta e sete. Pelas quais foi a mesma Senhora servida determinar a restituição desta fonte sossegando o povo e livrando da opressão que lhe causava a falta de água no Bairro do Castelo. E por isso em memória de tão Augusta Soberana se gravaram os versos seguintes: Reinava como entre os antigos o divino Ulisses, que nenhum cidadão fazia dano, quer por palavras, quer por obras. 1788.
Para a reconstrução deste fontanário foi utilizada pedra lioz, cujas pilastras – rematadas por coruchéus, sendo o central mais desenvolvido – enquadram quatro painéis cerâmicos, vigorosos nos seus esmaltes azuis. Os das extremidades, de recorrência classicizante, evocam – estáticas sobre plintos em cujas cartelas se podem ler versos latinos, infelizmente, hoje muito danificados –, as figuras idealizadas de Diana e da Justiça, correndo por baixo destas alegorias, respectivamente as seguintes legendas em latim: Eis a terceira Cintia, a pluvial, já em pleno crescente – Lucano; e Não atentes na aparência do pobre, nem atendas à importância do poderoso. Julga em estrita justiça o teu concidadão. Os painéis de azulejos que emolduram a centralizada lápide inscrita contrastam com os anteriores, pois, de traço mais livre e de maior naturalidade, representam frondosos pinheirais.
The first reference to the Fonte da Pipa dates back to the Middle Ages. The present fountain, however, is the result of the construction works carried out by the senate of Sintra’s town council following the earthquake of 1755. It was sponsored by Queen Maria I, as can be seen in the lengthy inscription occupying the entire central strip of the predella: This ancient Fonte da Pipa was rebuilt and enhanced by Doctor Francisco José de Miranda, President of the Senate of the Town Council of Sintra and royally appointed judge of this Town in fulfilling the instructions of Her Majesty as published in a notice issued by the Secretary of State for the Affairs of the Kingdom on the twenty sixth of October seventeen hundred and eighty seven. The same Lady has determined the restitution of this fountain to appease the people and free them from the burden deriving from the lack of water in the vicinity of the castle. And therefore, in memory of such an August Sovereign the following verses were engraved: She reined as did Ulysses in ancient times and no injury to her was done by any citizen either in word or deed. 1788.
Lioz limestone whose pilasters, topped by spires with a more developed central part, was used for the reconstruction of this fountain, frames four ceramic panels with striking blue glazes. The panels located at the extremities which display recurring classicising themes, static on plinths with cartouches displaying Latin verses, unfortunately, in a very poor state of repair, make reference to the idealised figures of Diana and Justice. Underneath these allegories respectively lie the following Latin inscriptions: “Behold the third Cintia, the pluvial, with its full crescent moon” (Lucanus) and “You shall not be partial to the poor nor defer to the great, but you are to judge your neighbour fairly” (Leviticus). The tile panels framing the centralised plaque stand in contrast to the other panels, in their representation of leafy pine groves in a freer, more natural style.