Os depósitos do Monte do Sereno situavam-se a Nor-Nordeste da Ermida de Santa Eufémia da Serra e a Sudoeste do Castelo dos Mouros. Tratavam-se, na realidade, de dois distintos conjuntos de objetos votivos, distando um do outro cerca de 12 metros e esta descoberta, meramente ocasional, resultou da abertura de caboucos, em 1926, para a construção do “castelinho” projetado por Norte Júnior.
O primeiro depósito era constituído por cinco artefactos de pedra polida (quatro machados e uma enxó) sem vestígios de uso; enquanto que, no segundo, acharam-se duas peças de bronze (uma lâmina e um machado de talão e argola. A presença do machado de talão com argola indica, na região de Sintra, a existência de relações e contactos com os territórios mais setentrionais, designadamente no aro do denominado Bronze Atlântico.
Este monumento pré-histórico foi identificado na década de 1950, tendo-se realizado a primeira intervenção arqueológica, logo em 1957, através da abertura de uma vala de sondagem que revelou estar-se perante uma sepultura, com ocupação atestada no Calcolítico Final.
Implantado sobre um cume, com excelente domínio da paisagem, ainda que não muito elevado na vertente Norte da Serra de Sintra, este tholos – ou monumento funerário – foi construído sobre um caos de blocos graníticos e integra, parcialmente, afloramentos rochosos na estrutura. A sua planta constitui-se por câmara circular e corredor que constituem, aliás, características dos tholoi calcolíticos. Para a sua construção aproveitaram-se as condições naturais do terreno e utilizaram-se muros de lajedo fino para preencher as aberturas naturais existentes entre os blocos. Esta edificação encontra-se coberta por enorme pedra que dificilmente teria sido transportada pelo homem, pelo que se supõe a sua prévia existência no local e na mesma posição, quando o abrigo natural foi transformado em espaço de inumações. Existem ainda escassos vestígios de aglomerações pétreas que terão sido parte da mamoa.
A cerca de 300 m a Sudeste da Vila de Colares, num ameno e fértil vale, já próximo da ribeira da Abreja, ergue-se, singela, a pequena Ermida de Nossa Senhora de Milides, junto a uma casa senhorial muito adulteradas, mas pateando ainda alguns vestígios manuelinos e outros já modernos. Em redor da dita Capelinha subsiste uma necrópole medieval parcialmente aberta sobre um campo de silos escavados na rocha alto-medievais.
As sepulturas – orientadas Este-Oeste – apresentam-se, na totalidade, escavadas na rocha, esboçando algumas delas uma solução antropomórfica e permaneciam cobertas com lajetas. Para estas inumações encontramos um paralelo geograficamente vizinho na Igreja Paroquial de Santa Maria. Devido ao facto de se observar a destruição de alguns sepultamentos por outros, aproveitando, inclusive, paredes comuns para mais do que um enterramento, sobreposição de túmulos e colocação de ossários no interior das covas, permitirá poder concluir-se, a priori, ter havido, ao longo dos 300 anos em que esta necrópole esteve ativa (entre os séculos XII e XIV), grande ocupação deste chão sacralizado.
Este povoado calcolítico situava-se num cabeço conhecido por Penha Verde (cota altimétrica: 360 m) e erigia-se sobre caos de blocos graníticos, contrastando, aliás, com o ambiente geológico em que se implanta, porquanto as estruturas postas a descoberto encontram-se construídas com lajes de calcário.
Tratam-se de duas habitações de planta circular com corredor de acesso. Verifica-se a existência de um silo parcialmente escavado na rocha, em pleno lajedo que dá acesso à casa n.º 2. Ali foram também encontrados troços de muralha que preenchem os intervalos entre os penedos graníticos do cume.
As primeiras recolhas realizadas no local remontam ao ano de 1949. Mais tarde, em 1957-1958, procedeu-se à escavação e consequente publicação dos elementos encontrados no povoado da Penha Verde, que identificando diversos níveis de ocupação: o primeiro reporta-se à existência de uma “indústria” microlaminar Epipaleolítica; o segundo, consiste de um nível de ocupação do Calcolítico Médio; o terceiro consiste numa fase ocupacional do Calcolítico Final, tendo-se constatado já ali a existência de peças com cronologia circunscrita à Idade do Bronze e cuja datação, obtida através de C14, aponta para um aro cronológico a volta de 1430 a.C.
Esta última fase de ocupação é, sem dúvida, a melhor representada e os paralelos estabelecidos com outros arqueossítios, como os contextos do estuário do Sado, designadamente no Castro da Rotura.
A estação da Idade do Bronze do Castelo dos Mouros implanta-se numa encosta, junto a uma das extremas da fortificação medieval, a 450 m de altitude, dominando todo o vale que se estende para Norte. Os fragmentos cerâmicos ali recolhidos são muito significativos e decorados com ornatos brunidos, vasos carenados, grandes recipientes, para além de escassas lascas de sílex. A presença de artefactos semelhantes na antiga paroquial sintrense poderá apontar para uma ocupação esparsa, distribuída ao longo de vários patamares de vertente do cume hoje dominado pelo grande albacar, podendo, ainda, integrar o sítio do Parque das Merendas.
Apesar dos materiais provirem de recolhas de superfície (prospeções de 1986), pode-se afirmar que o habitat do Castelo dos Mouros foi ainda ocupado no Bronze Final (séculos X-VIII a.C.). As cerâmicas brunidas tipo “Lapa do Fumo/Alpiarça” encontram-se na Estremadura, disseminadas por um vasto leque de povoados e sepulturas. Estes testemunhos arqueológicos surgem e significativa percentagem em locais com naturais condições defensivas, ocorrendo também em cumeadas naturalmente protegidos como Chibanes, Santa Eufémia da Serra, Penedo do Lexim, Alcainça, Pragança, Castro de Caratão e, obviamente, no sítio Calcolítico do Castelo dos Mouros.
Identificado em 1986, através de recolha de superfície e localizando-se a 260 m de altitude, foi detetado no Parque das Merendas, entre afloramentos graníticos, um habitat da Idade do Bronze/Ferro. As prospeções efetuadas revelaram poder tratar-se de um habitat de encosta com aproveitamento de abrigos naturais, formados pelo caos de blocos graníticos, para habitação. Dos materiais recolhidos destacam-se os fragmentos de cerâmicas brunidas, de vasos alisados no interior, vasos de fundo plano, grandes contentores, percutores, um machado de pedra polida, lascas, lâminas e núcleos.
O sítio de São Pedro de Canaferrim localiza-se em pleno maciço sub-vulcânico de Sintra, entre os 395 e os 402v m de altitude. A área ocupada durante o Neolítico estende-se por dois patamares onde imperam caos de blocos graníticos formando abrigos naturais, na vertente Sudeste do Castelo dos Mouros e em local abrigado dos ventos predominantes de Nor-Noroeste.
Contrariando os padrões de povoamento conhecidos para o Neolítico antigo no actual território português, o sítio de São Pedro de Penaferrim constitui um exemplo de habitat de montanha, tendo-se recolhido, na escavação das ruínas da antiga paroquial de São Pedro de Canaferrim, um conjunto cerâmico com cerca de cinco dezenas de fragmentos cerâmicos com decoração impressa e incisa, por vezes, com aplicações plásticas sob a forma de cordões, asas ou mamilos, aplicados, sobretudo, em recipientes esféricos, vasos de colo e em forma de saco.
Os trabalhos arqueológicos realizados, em 1993, numa plataforma de cota inferior permitiram a identificação de um nível arqueológico selado que preenchia uma fossa escavada na rocha. Os sedimentos caracterizavam-se pela abundante presença de carvões associados a um conjunto artefactual, constituído, essencialmente, por fragmentos cerâmicos – num potencial conjunto de oito vasos – pedras lascadas e afeiçoadas.
Este contexto preservado possibilitou a recolha de duas amostras de carvão, para as quais se obtiveram duas datações de C14, apontando para uma ocupação da charneira do VI para o V milénio BC, coincidentes, aliás, com os resultados obtidos para outros locais da bacia mediterrânica Ocidental.
Durante estes trabalhos, que se prolongaram até 1995, detetou-se também uma complexa sequência estratigráfica islâmica e pôs-se, igualmente, a descoberto parte de uma necrópole medieval.
Na sequência de uma intervenção arqueológica de emergência realizada num prédio da Rua das Padarias, em pleno Centro Histórico. Para além da presença de testemunhos confirmantes de ocupação romana, islâmica e pós-medieval, a inequívoca importância deste sítio reside no facto de, pela primeira vez, se ter identificado na área urbana da “Vila Velha” de um contexto arqueológico atribuível à época de transição entre o Neolítico Final e o Calcolítico.
Este habitat foi identificado no decorrer dos supramencionados trabalhos. Tratava-se, pois, da última camada estratigráfica assente no areão granítico que colmatava os interstícios do afloramento rochoso. Do material recolhido foram identificados 450 artefactos, com predominância para as cerâmicas, tais como, taças caneladas, taças de bordo denteado, taças carenadas, recipientes decorados a punção, pratos de bordo “almendrado” e vasos esféricos. Dos materiais não cerâmicos, recolheram-se também machados de pedra polida, lascas e furadores de sílex. Foi, ainda, detetado um troço de uma estrutura pétreas com cerca de 1 m de largura e que poderá, eventualmente, ter correspondido com a muralha exterior do povoado.
Os vestígios romanos detetados no antigo aglomerado urbano sintrense são, de certo modo, escassos, se bem que inequívocos e facilmente datáveis. Resumem-se, no seu conjunto, a pouco mais do que uma dezena de peças, entre artefactos de bronze, de cobre e cerâmicas.
O sítio romano da “Vila Velha” de Sintra
Dentre eles, destaca-se o carneiro votivo de bronze descoberto no Arraçário, uma moeda de cobre datada do século IV, proveniente dos silos da Rua Gil Vicente, e os preciosos materiais exumados na Rua das Padarias e que permaneciam ainda in situ: designadamente um fragmento de uma travessa de terra Sigillata Clara D, de fabrico tardio, isto é, entre os séculos V e VI; uma moeda com cronologia apontando para os finais do IV-inícios seguinte; duas pontas de fuso em bronze e alguns fragmentos de boca de ânforas, para além de um troço de muro, de aparelho irregular e parcialmente destruído, mas muito semelhante a outras estruturas postas a descoberto em estações romanas da mesma época em contexto de uillae neste território.
Via e provável necrópole romanas da Rua da Ferraria
A hipotética via e necrópole romanas supracitadas situam-se sob as atuais Rua da Ferraria, Calçada dos Clérigos e Calçada da Trindade, dentro da malha urbana de Sintra e do Arrabalde. A sua possível existência, todavia, apenas pode deduzir-se através de uma inscrição funerária, provavelmente do século II d.C., patente no CIL II: [DIS . MANIBVS / L . LOREI . L . F . GAL / MAXIMI . ANN . XVI] e descoberta no século XVI incluída numa porta lateral da Igreja Matriz de Santa Maria, bem como através de um fragmento de um capeamento romano, com idêntica datação, que estava reaproveitado como alvenaria numa casa sita na Rua da Ferraria.
Como é sabido, as necrópoles romanas estendiam-se ao longo das vias. Não interessaria muito a maior ou menor importância dessas estradas, mas sobretudo a sua proximidade a um habitat. A presença, durante o século XVI, de uma inscrição funerária romana reaproveitada entre os paramentos da referida paroquial não indica, de per si, a confirmação da existência pretérita de uma via e/ou necrópole romanas. Todavia, a descoberta de vestígios de uso comum sob o tecido urbano do Centro Histórico, induzem a necessidade local confirmante de uma necrópole, hipótese esta reforçada pelo achamento do capeamento de monumento funerário romano encontrado já no último quartel do século XX. Com base nestes elementos e analisando ainda os antigos traçados de ruas e de caminhos da “Vila Velha” e do Arrabalde, parece-nos legítimo propor que uma das putativas vias entroncasse na rede viária do território rural, a Sudoeste da Serra.