O Palácio Nacional de Sintra, pela sua dimensão e importância, assume-se como uma das memórias histórico-artísticas de maior relevo no conjunto dos monumentos que constituem a Paisagem Cultural de Sintra. O sincretismo entre património natural e monumental e a harmonia entre si estabelecida valeu-lhe a integração na classificação da UNESCO como Património Mundial – Paisagem Cultural desde 1995.
Situado em pleno centro histórico da vila de Sintra é, de todos os paços reais portugueses, o exemplar que melhor se conservou até à contemporaneidade. Da primitiva edificação, assim como o nome do seu fundador, nada se sabe ao certo. Acredita-se, no entanto, que terá sido construído sobre a residência dos antigos Walis muçulmanos. A planta original sofreu, sobretudo ao longo dos séculos XIV, XV e XVI, significativas alterações que compreenderam obras de ampliação e beneficiação realizadas por ordem dos Reis D. Dinis, D. João I e D. Manuel I.
As razões que levaram estes monarcas a prestar maior atenção a este monumento foram várias. Entre elas estará, certamente, o microclima que a serra de Sintra propicia a toda a sua zona envolvente. A verde mancha florestal constantemente envolta numa “bruma que se não dissipa” confere-lhe uma beleza única. D. Duarte, a propósito da vila de Sintra e do seu paço real escreveu: «Vimos a esta vila de Sintra muitas vezes ter alguns verões. E assim cremos que o farão os reis que depois de nós vierem, por acharmos a terra de muito bons ares e águas e de comarcas em que há grande abundância de mantimentos de mar e de terra, e por a nossa muito nobre e leal cidade de Lisboa estar tão próxima, e por termos em Sintra muita folgança e desenfadamento de montes e de caças. E por termos nelas nobres paços de mui espaçadas vistas…».
Mais tarde, Damião de Góis, cronista principal do rei D. Manuel I, como que a dar razão a D. Duarte, enumerou os seguintes motivos para a Corte ali passar parte do ano: «… por ser um dos lugares da Europa mais fresco, e alegre, para qualquer rei, príncipe e senhor poder nele passar esse tempo, porque além dos bons ares que de si lança aquela serra, chamada pelos antigos Promontório da Lua, há nela muita caça de veados e outros animais, e sobretudo muitas e muito boas frutas de todo o género das que em toda a Espanha se podem achar, e as melhores fontes de água e mais fria de toda a Estremadura, às quais coisas todas acrescenta sabor os magníficos paços que no mesmo lugar têm os reis, para seu aposento e dos que com eles ali vão». O facto de a Corte passar largos períodos de tempo neste paço real, ao longo dos vários reinados até à implantação da República, contribuiu para o excecional estado de conservação do monumento, que de outra forma dificilmente estaria tão bem preservado.
O Palácio Nacional de Sintra apresenta uma complexa planta arquitetónica composta por volumetrias paralelepipédicas, escalonadas e articuladas de acordo com os eixos Sudoeste-Sueste e Noroeste-Sueste. D. Dinis terá sido o primeiro monarca a beneficiar este paço real. Terminado o período da reconquista do território aos mouros e delimitadas as fronteiras do reino de Portugal (pouco diferentes daquelas que conhecemos hoje), o Rei-Poeta constrói algumas estruturas que se articulam com as pré-existências, nomeadamente a capela palatina.
Esta estrutura religiosa apresenta uma planta longitudinal retangular de nave única e com tribuna; as paredes apresentam-se pintadas a fresco com pombas que seguram na boca um pequeno ramo de oliveira fazendo desta forma alusão ao Espírito Santo, divindade a quem a capela real é votiva. Inicialmente construída num gótico despojado e simplicista, tão característico do estilo arquitetónico vigente na Europa de então, atualmente apenas as janelas góticas rasgadas a Oeste nos fazem recuar a esse tempo.
No primeiro quartel do século XV, D. João I foi o monarca responsável pelas primeiras grandes transformações e obras de ampliação do Paço. A Europa de então privilegiava o espaço habitacional. Reis e nobres construíram ou transformaram os seus palácios em símbolos de poder, ornando-os de faustosos objetos e diversos e ricos materiais. Inserido neste novo espírito, o Rei mandou construir várias dependências, entre elas a que denominamos hoje Sala dos Cisnes.
De planta retangular, apresenta um singular silhar de azulejos de aresta e uma lareira renascentista esculpida em mármore de Carrara; o teto, em madeira, apresenta nos painéis octogonais figuras de pegas. Outras das edificações que devemos a este monarca é a magnifica cozinha: situada a nascente, está forrada de azulejos brancos, composta por dois tramos, separados por arco quebrado, coroados por duas monumentais chaminés cónicas, com 33 metros de altura, que imediatamente se tornaram no ícone do palácio e da própria vila de Sintra.