Crédtos: PSML-Wilson Pereira
O Mosteiro de Nossa Senhora da Pena da Serra de Sintra fora uma circunscrição administrativa eclesiástica regular conventual integrante da instituição canónica da Ordem monástica de São Jerónimo, localizada no sítio homónimo da Serra de Sintra e funcionalmente existente entre c. 1511 e 1834. Construído entre 1839 e 1849 por ordem do Rei consorte D. Fernando II (1816-1885), o magnífico Palácio da Pena e o Parque que o rodeia são o expoente máximo do romantismo em Portugal.
Desde o início das obras de adaptação e ampliação, destinada a residência de verão da família real portuguesa, que o Palácio da Pena assumiu um papel pioneiro, destacando-se do panorama artístico do Portugal Romântico do séulo. XIX.
Mosteiro de Nossa Senhora da Pena
Este Mosteiro fora fundado sobre uma primitiva Ermida de Nossa Senhora da Penha, edificada cerca de 1372 por D. Henrique Manuel de Vilhena, Conde de Seia e Sintra e tio do Rei D. Fernando I, em consequência da descoberta local de uma reputada imagem milagrosa daquela invocação por uma pastora no século XII.
Segundo uma memória registada no século XIV, os Priores da Igreja Paroquial de Santa Maria de Sintra iam todos os sábados celebrar a liturgia eucarística a esta Ermida, e, entre 30 de Setembro e 10 de Outubro de 1493, o Rei D. João II e a Rainha D. Leonor deslocaram-se aí com uma comitiva em peregrinação de cumprimento votivo, terapêutica e de luto pelo falecimento do Príncipe D. Afonso, rezando uma novena em recolhimento quase solitário (segundo o relato cronístico de Garcia de Resende), tendo já o templo possivelmente sido alvo de uma campanha de obras conduzida pelo Arquiteto Contucci Sansovino, vindo a Portugal em 1481 por solicitação régia ao Grão-Duque da Toscânia Lourenço Médicis o Velho.
D. Manuel I encomenda a João Potassi os planos para um novo convento. Tradicionalmente, acredita-se que o monarca assistiu dali à chegada de Vasco da Gama vindo da Índia e, por isso, prometeu ali construir um mosteiro. O pequeno convento, inicialmente edificado em madeira, transformou-se assim numa casa religiosa, em sólida alvenaria, destinada a 18 monges, e que compreendia capela, sacristia, dormitório, claustro, oficina e campanário.
Consequentemente, o Rei erige e enriquece, em ação de graças a Nossa Senhora da Pena, um Mosteiro definitivo nesse mesmo local, sob planta atribuída à autoria de Mestre Diogo Boitaca, cortando e detonando a Penha original numa planície de 80 pés de terraplanagem, levantando depois uma estrutura efémera de madeira em 1503 e depois perenizada em cantaria e abobadada desde 1511.
Após a conclusão dos trabalhos em 1513, a estrutura religiosa foi entregue à Ordem de São Jerónimo. Contudo, o primeiro grande momento da História do Mosteiro da Penha só aconteceria em 1532. Na sequência de uma promessa feita à Virgem Maria, pelo nascimento do seu filho D. Manuel, o Rei D. João III e a sua esposa D. Catarina encomendaram o retábulo-mor da capela do convento a um escultor francês – Nicolau de Chanterenne. O resultado foi uma obra de arte magnífica. O grande retábulo esculpido em mármore, jaspe e alabastro, com temáticas relativas à vida de Jesus Cristo e da Virgem Maria, é uma das melhores obras primas da escultura da Renascença existentes em território português. No percurso histórico do seu património artístico, destaca-se ainda o azulejamento parietal ordenado pelo Rei D. Filipe II em 1619 (aquando da sua visita régia a Portugal) e a realização de obras de requalificação motivadas pela queda de um raio em 1743 e realizadas pela intervenção votiva do Rei D. João V.
Palácio Nacional da Pena
Em 1834, aquando da extinção das ordens religiosas, já o mosteiro se encontrava semiabandonado, encontrando-se apenas a igreja aberta ao público e sob a tutela do padre do Convento da Penha Longa. Quatro anos mais tarde, em 1838, o Rei D. Fernando II adquiriu o mosteiro em hasta pública.
D. Fernando II estava determinado a deixar a sua marca em Sintra. O glorioso éden relatado por Byron, e por vários outros autores e viajantes como William Beckford e Hans Christian Andersen, surpreendeu-o. Os palácios, a história e a beleza natural do local estavam de acordo com os cânones estéticos ditados pela corrente romântica, iniciada ainda no século XVIII. A harmonia celebrada entre natureza e património facilitava o sonho romântico. Dois anos após a sua chegada a Portugal, D. Fernando II, comprou em hasta pública, e por 761.000 reis, o antigo convento hieronimita de Nossa Senhora da Penha e várias outras propriedades em seu redor, e aforou o Castelo dos Mouros, num total de 200 hectares. O objetivo era recuperar e ampliar o mosteiro para ali criar a sua residência de Verão e, na zona envolvente, um extraordinário parque de lazer pontuado, aqui e ali, por estruturas arquitetónicas à maneira antiga, lagos e espécies florais e arbóreas provenientes de várias partes do mundo. Influenciado pelos palácios da sua terra natal; por palácios como o de Monserrate e de Seteais; ou ainda por outros palácios que existem, ainda hoje, em vários locais da serra de Sintra, o futuro Palácio da Pena nada ficaria a dever a esses maravilhosos exemplares já existentes.
O plano arquitetónico original foi reformulado e ampliado em 1840 pelo engenheiro militar, e amigo pessoal de D. Fernando II, o Barão von Eschwege, a partir de um plano executado pelo arquiteto Nicolau Pires. O novo palácio começava a assumir diversas formas e cores. Tudo era diferente do que existia até aquele momento no Portugal de então. Uma estilização da torre de Belém, invocando o período áureo da História de Portugal, elementos decorativos evocando formas arabizantes ou inspirados na corrente gótica e no manuelino. Enfim, a reunião de uma profusão de volumes, decorativos e revivalistas, sem precedentes na História da arquitetura portuguesa e que ainda hoje quando observamos o seu resultado final, nos transporta para um qualquer conto de fadas e nos povoa o imaginário.
O interior do Palácio oferece um conforto extremo. Provido de todas as dependências necessárias a uma estrutura real, a este excecional palácio houve o cuidado de não descurar a questão estética. O belo foi, necessariamente, uma das palavras de ordem. Todos os recantos que envolvem o observador permitem momentos únicos. Quase somos transportados numa máquina do tempo, para um tempo que não volta mais. Os elementos fitomórficos, as esculturas, os elementos esotéricos e mitológicos, que decoram a estrutura edificada, aliados a paredes pintadas em trompe l’oeil e uma decoração de cores quentes, azulejos e veludos, permitem criar uma cenografia verdadeiramente romântica. Ao observador é-lhe permitido experienciar sensações únicas, tal é a envolvência do cenário que o rodeia. Composto de claustro, a partir do qual se desenvolvem os restantes volumes; capela – onde ainda podemos ver o retábulo de Nicolau de Chanterenne; sala árabe, sala indiana, sala de jantar e de estar, cozinha, quartos de dormir e gabinetes privados. As várias estruturas articulam-se em diferentes registos e permitem ao observador encontrar, aqui e ali, referências a outros tempos da História de Portugal, sempre e tudo cenograficamente pensado até ao mais pequeno detalhe.
Ao mesmo tempo que o palácio se assumia cada vez mais como mais um dos ícones da região, as obras no parque do palácio avançavam a bom ritmo. O próprio Rei, juntamente com os especialistas à sua disposição, arquiteta a estrutura do parque. As espécies arbóreas e florais afluíram de várias partes do mundo, inclusive da Floresta Negra. Em 1949, ficaram concluídas as obras do parque. Uma espécie de jardim do paraíso, ornado de flores e árvores exóticas, feteiras, lagos com cisnes e estruturas arquitetónicas que permitem cenários tão ao gosto do romantismo. A coroar toda esta magnificência vegetal – o Palácio da Pena. Richard Strauss, famoso compositor, disse a propósito: «Hoje é o dia mais feliz da minha vida. Conheço a Itália, a Sicília, a Grécia e o Egipto, e nunca vi nada, nada, que valha a Pena. É a cousa mais bela que tenho visto. Este é o verdadeiro jardim de Klingsor e, lá no alto, está o Castelo do Santo Graal.»
D. Maria II faleceu a 15 de Novembro de 1853, com apenas 34 anos. Apesar do grande desgosto que sofreu, o Rei continuou com as obras no palácio. Certos autores defendem até, que os trabalhos do palácio acabaram por ajudar o Rei a suportar a dolorosa perda da sua Rainha. Alguns anos mais tarde, em 1869, casou com Elisa Hensler, a Condessa de Edla, famosa cantora de ópera. A sua devoção à nova esposa foi, pois, muito significativa. D. Fernando mandou construir, para habitação da sua nova mulher, um chalé no Parque da Pena segundo projeto da própria.
D. Fernando II acabou por sucumbir, no Paço das Necessidades, no dia 15 de Dezembro de 1885, devido a uma enfermidade que o acompanhou nos últimos anos de vida. À data da sua morte, ainda se efetuavam trabalhos de decoração no Palácio da Pena. A Condessa de Edla herdou o palácio e, em 25 de Junho de 1889, ingressa nas mãos da Coroa, depois de adquirido em hasta pública pela quantia de 310 contos. Até à implantação da República, a Rainha D. Amélia utilizou regularmente o palácio como sua residência de verão. A partir de 1910, o palácio foi musealizado e aberto ao público com a designação oficial de Palácio Nacional da Pena.