A História do Palácio de Monserrate é longa. Tão longa que facilmente nos perdemos e encantamos nos pormenores que em si encerra. Entre proprietários e arrendatários, comerciantes têxteis e homens de letras, foram várias as figuras que contribuíram para o enaltecimento de tão nobre e belo monumento. Em 1790, D. Francisca Xavier Melo e Castro, numa tentativa de promover a utilidade daquele terreno, arrenda a propriedade a Gerard DeVisme, um rico comerciante, detentor do monopólio do pau-brasil, e amigo do Marquês de Pombal.
Em 1791 nasceu o primeiro palácio e, à sua volta foi plantado um enorme pomar a que não ficavam indiferentes as gentes da região, até porque participavam ativamente nos seus trabalhos de manutenção. DeVisme mandou construir, no local onde outrora existiu a antiga estrutura religiosa, um palácio acastelado neogótico – tão ao gosto da Inglaterra da época, cujo projeto atribuiu ao arquiteto inglês William Eldsen. Os jardins da propriedade não foram descuidados e para além de um cuidadoso plano de jardinagem, foram incluídas algumas esculturas e uma capela neogótica, num dos morros da propriedade, como se de um ermitério se tratasse. É curioso notar que a criação deste espaço estava completamente de acordo com a estética romântica vigente na Inglaterra do séc. XVIII. Em Lisboa, DesVisme, mandou construir um palácio em estilo neoclássico onde residia a maior parte do ano. De salientar que estas duas correntes, o neogótico e o romantismo nasceram em simultâneo em Inglaterra em meados do séc. XVIII. O gosto pelas antiqualhas, e sobretudo pelo modo gótico estava bem presente. O estado de ruína, clássica ou gótica, acentuava o carácter romântico do cenário. John Ruskin (1819-1900) no caso da Inglaterra, e Alexandre Herculano (1810-1877) no caso português, foram dois dos teóricos que, em parte, desistiram de projetos de felicidade pessoal para defenderem os interesses nacionais. Sobretudo no que dizia respeito ao património e à forma como este devia ser tratado.
O arrendamento da propriedade era válido por nove anos. Com o afastamento do Marquês de Pombal por D. Maria I, DeVisme viu o seu monopólio de pau-brasil ameaçado. Resolveu então subalugar a quinta de Monserrate, no ano de 1794, a um culto viajante - William Beckford. O rico inglês passou algumas temporadas na Quinta de Monserrate, que de resto, alugou várias vezes. Contudo a Quinta, foi sucessivamente, e ao longo dos anos perdendo o brilho que lhe tinha sido conferido por DesVisme e, à última partida de William Beckford, em 1799 a propriedade iniciou um ciclo de declínio acentuado. Em 1809, já o Palácio se encontrava em ruína, Byron no seu Childe Harold`s Pilgrimage, e após uma viagem que incluiu Sintra no seu itinerário, descreveu o mau estado em que a propriedade se encontrava.
A família Melo e Castro, na pessoa de D. Maria Castro e Almeida Pimentel, regressa de Goa em 1855. É nesta altura que a propriedade de Monserrate é vendida a um célebre comerciante têxtil inglês – Francis Cook. O projeto de reconstrução do novo palácio foi em 1858 encomendado ao arquiteto inglês James Knowles Jr. As obras de remodelação tiveram como um dos principais objetivos aproveitar as estruturas pré-existentes e manter, dentro dos possíveis, as primitivas estruturas. O parque circundante, transformou-se num magnífico jardim exótico, idealizado pelo, também, inglês Burt, com espécies forais provenientes de várias partes do mundo. Os jardins do Palácio, e de acordo com a estética romântica, foram decorados com antiguidades que Francis Cook adquiriu nas suas viagens. Desde arcos indianos a sarcófagos estruscos e estatuária clássica, foram vários os elementos de valor histórico-artístico ali colocados. Tudo se articulava em cenários e ambientes irrealistas que permitiam inserir o observador numa qualquer cena romântica. O novo traço do palácio apresenta-nos, na sua arrojada arquitetura, sugestões indianas, góticas e mouriscas. O resultado é uma obra de arte magnífica. Ainda hoje o Palácio vale por si só. Toda a estrutura se ordena a partir de um corredor central, dividida por um pátio central de formato hexagonal, e que apresenta centralizado numa fonte. O próprio corredor apresenta uma sucessão de arcos, sustentados por colunas e arcos preenchidos com bandeiras decoradas por arabescos esculpidos num fino trabalho de pedra, que nos remetem imediatamente para a Andaluzia. Toda a estrutura, em muitos dos seus pormenores, denota uma evidente influência de cariz goticizante. Arcos quebrados ou trilobados, arquivoltas e elementos vegetalistas que nos recordam tanto o período gótico como o mourisco. Os magníficos trabalhos de estuques, as bandeiras rendilhadas dos arcos quebrados, as placas de mármore e alabastro decorativas, as esculturas e os trabalhos em madeira, nomeadamente da biblioteca, os tetos, as abóbadas, enfim nenhum detalhe deixado ao acaso numa obra de referência única sem par noutras paragens do globo que nos deixa sem adjetivos para classificar tanta beleza artística.
Em 1870, o Rei D. Luís eleva Francis Cook a Visconde de Monserrate, que empreende alguma obras sociais a favor dos seus quase 300 funcionários que viviam nas zonas de Colares e Galamares. O título passou para o seu filho, Herbert Cook que continuou a dignificar a magnifica propriedade, prosseguindo com trabalhos de melhoramento no jardim, mantendo-o aberto ao público, conservando o verde dos relvados, os lagos dos brancos cisnes e das plantas aquáticas.
A partir de finais de 1929 a Quinta e o respetivo Palácio de Monserrate são colocados à venda, mas só em 1946, Ferdinand Cook, filho de Herbert Cook, negoceia a propriedade com o financeiro português Saúl Sáragga. A tentativa, deste último, de desmembrar a propriedade em vários lotes não resultou. Finalmente, em Maio de 1949, o Estado Português adquiriu a Sáragga a propriedade, incluindo o Palácio e todos os seus bens, tornando-se assim o proprietário do imóvel e do Parque de Monserrate.
Atualmente, gerida por uma sociedade pública, Parques de Sintra Monte da Lua, a propriedade foi alvo de intervenções de conservação e restauro que lhe devolveram a magnificiência original, enquanto se pensa numa utilização para as várias salas de tão notável monumento.
Um dos exemplos da união entre as duas correntes artísticas - gótico e renascimento - que acabamos de referir é o extraordinário átrio abobadado, para o qual se acede a partir do portal principal. A abobada assenta num complexo jogo de arcos e nervuras, que se organizam a partir de vários locais da estrutura, e que lhe servem de sustentação. As pedras de fecho das nervuras da abobada apresentam decorações inspiradas em programas claramente góticos como elementos fitomórficos ou simbologia associada ao cristianismo. A abobada abre-se para o pátio seguinte através de dois arcos de volta perfeita - constituídos por uma coluna e duas pilastras adossadas às paredes laterais. Os capitéis de origem italianizante - de significativa qualidade plástica, diga-se, apresentam volutas e carrancas na sua ornamentação, tendo o central a referida inscrição com indicação referente a Pêro Pexão que supracitamos. Ainda nos espaços arquitetados entre os pátios de ligação podemos encontrar um outro átrio, igualmente com abóbadas nervadas, que neste caso dá acesso direto à grande loggia. Neste pátio encontramos também uma magnifica estrutura baldaquinada, apoiada numa parede integralmente revestida com azulejos mudéjares e um tanque renascentista, com dois baixos relevos representando a cabeça de dois elementos antropomórficos. As gramáticas góticas e renascentistas harmonizam-se com a envolvente decoração vegetal que emprestam ao conjunto uma voluptuosidade cénica impar.
Em 1541, a Coroa institui o morgadio de Ribafria. O Rei D. João III concedeu a Gaspar Gonçalves carta de brasão e o título de Senhor de Ribafria - título nobiliárquico de grande significado sobretudo para quem descendia de modestas famílias. É também a partir desta data que o novo nobre inicia as obras da Torre dos Ribafria. Num vale junto ao sopé da serra, local onde certamente nenhuma torre teria alguma serventia, nasceu assim um novo palácio que serviria de sede à nova casa dos Ribafria. Em 1569, Gaspar Gonçalves, acabou por receber, já durante o reinado do Rei D. Sebastião, o cargo de Alcaide-mor de Sintra. Esta importante função, de grande responsabilidade, foi desempenhada durante várias gerações por membros da sua família.
Até ao século XVIII o palácio permaneceu nas mãos dos seus familiares. O seu filho André Gonçalves contraiu matrimónio com uma nobre donzela da casa Albuquerque. Habitaram o Paço dos Ribafrias e ali viram nascer o seu descendente André de Albuquerque Ribafria que, infelizmente, viria a falecer como militar no cerco de Elvas durante a Guerra da Restauração.
Século XVIII, concretamente em 1727, o sucessor, Pedro de Saldanha Castro Ribafria vendeu a propriedade a Paulo de Carvalho Ataíde, religioso pertencente à Santa Igreja Patriarcal, que por sua vez a legou ao seu sobrinho Sebastião José de Carvalho e Melo, Conde de Oeiras e Marquês de Pombal, que desempenhou funções de ministro no reinado de D. José I e principal responsável pela reconstrução da cidade de Lisboa após a tragédia do megaterramoto de 1 de Novembro de 1755. No tempo do marquês o paço sofreu obras de beneficiação e modernização. Novos elementos foram introduzidos à estrutura quinhentista, sobretudo ao nível dos exteriores, como por exemplo janelas de guilhotina.
No século XX, no ano de 1924, temos notícia do paço ter passado para as mãos do Capitão Alfredo da Silva. Porém, não houve alterações significativas à sua estrutura. Atualmente o Paço dos Ribafrias é pertença de um particular que é responsável pelo seu estado de conservação e preservação.