A Vila de Sintra é formada por um conjunto significativo de edificações que abarcam os mais distintos períodos históricos. Desde o período muçulmano até à contemporaneidade são muitas as estruturas arquitectónicas que ali podemos encontrar. Local de eleição para muitas das mais importantes e abastadas famílias do país, Sintra, encontra aqui e ali palácios de contos de fadas fruto do sonho e da carteira dos seus proprietários e do traço de arquitetos notáveis como Raul Lino.
A Casa dos Penedos é um desses casos. A abastada família de Carvalho Machado Ribeiro Ferreira, que eram detentores de uma considerável fortuna devido a investimentos na área financeira, tinham a sua residência permanente em Lisboa, localizada na privilegiada avenida Fontes Pereira de Melo e edificada entre 1902 e 1906 (entretanto demolida para dar lugar a um prédio). Para a sua residência de veraneio, a edificar em Sintra em 1922, convidaram um dos melhores arquitetos portugueses – Raúl Lino, a quem de resto já tinham recorrido para as casas de Lisboa e de Cascais. Situada na encosta voltada a Norte da serra de Sintra, a casa tem uma vista privilegiada para o Palácio Nacional de Sintra, para a própria vila e ainda uma vista desafogada para a zona saloia que mergulha na imensidão do mar Atlântico.
Para a realização dos seus projetos arquitetónicos, Raul Lino, muitas vezes, escolheu locais de difícil implantação. A Casa do Cipreste, localizada alguns metros mais adiante, e a Casa dos Penedos são um bom exemplo disso. Contudo a especialidade de Raúl Lino é integrar estruturas e harmonizá-las com o seu meio natural envolvente. No vasto número de obras que realizou, muitas foram as que contemplaram intervenções em pré-existências com várias centenas de anos, como por exemplo o Palácio Nacional de Sintra.
No caso da Casa dos Penedos, o desafio era imenso. O terreno apresentava um grande declive e havia que encaixar ali um palácio residencial. Como acontece frequentemente nos projetos de Raúl Lino, os vários espaços articulam-se a partir de uma profusão de volumetrias escalonadas ou desniveladas. Para este projeto, um palácio de veraneio, havia que criar uma série de estruturas, nomeadamente dependências destinadas aos funcionários e ao serviço, compartimentos vários, arrumos, uma parte residencial para os proprietários e eventuais hóspedes, várias salas de aparato e ainda uma parte social onde estaria incluído um magnífico salão de baile. Tratando-se de uma família aristocrática, nenhuma destas dependências poderia ser descartada.
Os vários corpos que compõem o conjunto desenvolvem-se horizontalmente no sentido Este-Oeste e apresentam coberturas diferenciadas com telhados de duas, três e quatro águas e dois coruchéus piramidais. É a partir do edifício central, o de maiores dimensões, que se organiza todo o conjunto. Pela cota mais alta, virada a Sul, é feita a entrada principal. A massa divide-se por três pisos. A fachada virada a Norte apresenta vãos ritmados e emoldurados a cantaria. As janelas do andar principal são de sacada e as do piso superior de peito. Ao volume central adossam-se transversalmente dois volumes quadrangulares nas extremidades apresentando janelas de sacada providas de varanda de cantaria no andar nobre. Na entrada principal, encontramos três arcos cegos de volta perfeita. Da esquerda para a direita, o primeiro corresponde à porta, o segundo apresenta um rasgo longitudinal que inunda o interior do vestíbulo de entrada e o terceiro está completamente cego. Porém, os dois últimos apresentam-se decorados com painéis azulejares de grande qualidade plástica de gramática arte deco.
No interior do palácio, é evidente o cuidado com que foram tratados os pequenos detalhes. A grande qualidade dos materiais naturais utilizados como a madeira, a pedra e os mármores; o grande aproveitamento da luz natural; os magníficos painéis de azulejos e vários outros elementos que fazem deste palácio uma residência aristocrática de exceção.